terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Notícia italiana

Um amigo, uma vez, há muito tempo, me explicou alguns dos motivos que o faziam (sua família e ele) ser adventistas, e não católicos. Dentre estes motivos estava – lembro bem suas palavras – o fato de que “nós não adoramos imagens. Não nos agrada a idéia de construir uma imagem de gesso para simbolizar Jesus, Maria ou algum santo”. Lembro que nessa época (eu era um pouco mais criança do que hoje) essa colocação me impressionou e sempre que eu via os santos desenhados, esculpidos e envernizados diante uma multidão de gente que caminhava até eles rezando, cantando e às vezes até chorando me parecia impressionante como aquele objeto inanimado exercia tão grande influencia sobre todos. Bem, o ser humano é assim mesmo, eu pensava – talvez não com essas palavras –, necessitam construir símbolos para direcionar suas palavras, suas boas energias, seus pedidos e etecéteras, porque se não fica aquela sensação de rezar para o vazio. Bom, aceitado.

Na Itália, ontem, foi o início da ostentação a Santo Antônio. E vocês nem sabem quem estava lá... Sim, o próprio! Santo Antônio em osso e osso! Todos os anos os caras abrem o caixão do Antônio, colocam no meio da multidão, e lá se vai todo mundo atrás dos ossinhos “rezando, cantando e às vezes até chorando”. Na televisão, uma criancinha que está na fila para ver o “corpo” do santo diz que vai pedir para ele que os seus pais voltem a ficar juntos. Todo mundo quer um espacinho ao lado dos ossos para encostar na redoma de vidro e pedir coisas. A fila é quilométrica. Antes da cerimônia, o padre fala orgulhosamente diante de uma multidão ansiosa. Os homens abrem a tumba, tiram o caixão, desparafusam tudo e tiram um esqueleto. Os homens, enfileirados o carregam sobre os ombros para a procissão. As pessoas, enfileiradas, seguem o baile e o santo morto.


Isso foi novo para mim. Talvez o antigo problema aquele sobre os católicos “adorarem imagens”, como dizia meu amigo, já está um pouco resolvido. Hoje eu poderia responder para ele alguma coisa do tipo “não adoram imagens não, tu sabe do Santo Antônio?” Só que eu não sei... talvez seja um pouquinho... hã... estranho... E eu também não estou muito seguro de que um esqueleto de alguém que morreu em 1231 seja muito mais do que um objeto inanimado, mesmo que exerça uma super influencia sobre todo mundo. Mas que o santo está lá, ah, isso é certo. O santo está lá.

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