domingo, 25 de julho de 2010

Acho que era julho, de 2010.

Quinta, dia primeiro, meia-noite e um no hemisfério norte. Não ligou para o primo que estava de aniversário ontem. Mas não tinha seu número, e ele não tinha profile em redes sociais. Dentro de dois dias gostaria de estar em casa para a festa aquela: na verdade, gostaria de ter estado na outra, semana passada. Mas não deu. E também não sentiu muita firmeza em relação ao papel que poderia desempenhar se fosse: estava com dificuldade em se sentir importante. Viaja, volta, sol e banho de mar. Corre, se muda, casa de amigos. Sai rápido, nem se despede de todos. A volta era uma surpresa sobre a qual poucos tinham conhecimento. Talvez aí estivesse o primeiro indício da instabilidade onde estava se metendo: poucos sabiam de sua partida, poucos sabiam de sua chegada (isso provavelmente simboliza algo, pensa, um mês depois). Bu! Surpresa! A frase ecoa no espaço e já não se reflete da maneira como costumava ser. Tem um amigo que adora falar por metáforas. Provavelmente, se conversasse com ele neste momento, ouviria algo do tipo: “às vezes, você tem dor de dente e faz de tudo para consertá-lo. Às vezes ele dói um pouco e você acha que é por razões secundárias. E o tempo vai passando, e a dor vai aumentando. Chega um momento em que você precisa arrancá-lo. E você não quer. Você está acostumado a ele, e ele a você. É um processo duro – vocês fazem parte do eu do outro – mas depois que a gengiva começa a cicatrizar, você percebe não mais sentir dor. E se sente bem. E pensa que foi uma excelente decisão ter passado pela operação, por mais traumática que tenha sido.” Tenha essa analogia algum fundamento, ou seja ela una tontería das mais bregas, o certo é que o pós-operatório sempre é complicado, porque arrancar algo que faz parte de você sempre é traumático. E assim a vida vai avançando, o mês vai passando e é difícil saber exatamente onde se está. Vivia virtualmente em três lugares diferentes: o real, o idealizado e o confortável. O confortável, confortável já não é; o real já não existe, porque a realidade já é outra; e o idealizado continua idealizado, só que mais distante. Na rede social aquela, a declaração de gente que acaba de passar por processos parecidos: estão ailleurs (do francês, “outro lugar”, “outro lado”, sei lá qual é a melhor tradução para a palavra solta), um estado que não se traduz com palavras, mas com sensações – todos devem tê-la sentido um dia, pensa. Estar em ailleurs talvez seja confrontar a idealização da realidade que se espera, com a realidade que se apresenta. Afinal, o mundo perfeito (a nossa wonderland, expressão tão usada hoje em dia em alguns círculos sociais) nem sempre é como se imagina. Sem falar que ela sempre cobra o preço. A frase aquela ainda martela na cabeça: “a missão atual é desequilibrar-me, equilibrar-me e voltar ao equilíbrio”; mais do que aproveitar enquanto se está bem, aprende-se a encontrar os meios de lidar com sua má fase: cada um conhece, de si próprio, sua “parte bipolar”, e não existe facilidade em sair do casulo para transcender este estado – até porque voltaremos para o casulo na próxima curva, para logo sair de novo, e assim por diante...


O último tango, aquele, não foi dançado. Talvez seja melhor assim. Ou talvez seja, simplesmente, sem julgamentos de bom ou ruim.


Não é por nada que esta é a única postagem do mês de julho.


Welcome to wonderland.


.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...