O homem usa o mundo a seu proveito. O homem produz canetas de vários mil dólares com restos de mamutes congelados. Enquanto uns lutam para fechar negócios, outros lutam para salvar vidas; e crianças tentam entender o mundo e o universo enquanto há gente lutando para tentar sobreviver. Lukas Moodysson escreve e dirige um dos filmes mais impactantes que vi nestes últimos tempos. Por que impactante? Talvez porque nos faz constatar o estado em que as coisas estão nesse mundo, “a que ponto chegamos” como humanidade. Mas talvez porque pessoalmente eu tenha me identificado com muitos dos personagens que ali estavam, como se de uma maneira ou outra esse filme estivesse contando como foram as relações pessoais nos últimos dois anos de minha vida. Claro que poderia fazer uma relação pessoal direta com o personagem de Gael - Leo - por motivos óbvios, mas não é só isso: são outras redes, outras frases, vindas de outros personagens e que podem facilmente ser aplicadas. Aí me pergunto: só pra mim? Claro que não. Acho que aí está o impactante: é um filme que proporciona essa identificação sem cair no lugar-comum, mostra as coisas como elas são, sem dizer se é certo ou errado, sem apontar culpados ou inocentes. A vida em cadeia, uma coisa como conseqüência de outra, a famosa busca da felicidade desde vários pontos de vista. Por que busco isso? Por que busco aquilo? Posso ter tudo e não ser feliz. Posso ter a geladeira cheia, mas não conseguir conquistar a atenção de quem quero bem. Posso viajar a trabalho com tudo pago e me entediar. Posso descobrir um outro eu, que existe, e que estava guardado em algum canto por algum motivo. Posso. É humano.
No fundo, fica essa sensação de que o que vale são as relações, os contatos pessoais, as experiências. A última cena do filme, a última imagem, aquela antes que baixe a tela negra, é dessas que nos fazem deixar cair uma lágrima solitária simplesmente porque quase se chega a compreender a vida. Quase. Logo acordamos, saímos do cinema e nos damos conta de que tudo continua e que não, o equilíbrio ainda não foi restituído: seguimos vivendo em desmedida a nossa tragédia quase clássica de cada dia. E não importa em que ponto do globo estamos: somos humanos e isso basta.
A resposta para a pergunta-título desta postagem é dada por um dos personagens em um dos momentos cruciais do filme: “pelo de sempre, para dizer ‘oi’, ‘como estás?’ ‘tenho saudades’, etc.”
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Um comentário:
Bonito relato, Maico.
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