Hoje, os vilões das historias reais também sabem
disso. Sabem que não podem ser atacados enquanto estão rezando. E é por isso
que resolvem ficar rezando o templo inteiro, mesmo sem acreditar
verdadeiramente em deus, ou mesmo sem querer o bem do seu próximo. Essa é, na
verdade, uma maneira de defender-se dos ataques da sociedade. Ao mínimo sinal
de perigo, gritam: "hey, povo de deus, vejam! Estão atacando um homem
santo!". Então eles são salvos pela multidão ensandecida, religiosamente
seguidora de suas mentiras pecaminosas.
Porque seguir rezando é também uma maneira de
controle social. As pessoas estão sedentas por um messias. Estão esperando há
dois milênios pela vinda daquele que vai acabar com o pecado e o sofrimento nas
suas vidas. Só que Godot não chega, nem vai chegar. A necessidade de ter um
líder é tão grande, que qualquer um que tenha autoconfiança e ganância para dar
um passo à frente e reivindicar a liderança, a terá. Como na velha piadinha
sobre o grande amor, enquanto o líder certo não chega, estas pessoas "vão
se divertindo com o errado".
"Sua vida é tão vazia que você não consegue pensar numa maneira melhor de passar estes momentos? Ou você fica tão impressionados com a 'autoridade', que dá respeito e crédito a tudo e a todos os que dizem ostentá-lá?" Fight Club. |
A religião protege os malfeitores desde os tempos
de Shakespeare. Na verdade, desde muito antes. Shakespeare apenas se deu conta
disso e colocou no papel. Em nome da igreja os malfeitores foram longe demais.
E, em seu próprio nome, deus mandou matar muita gente, desde o antigo
testamento até hoje.
Hoje, amigos religiosos, o diabo esta tomando
proporções muito maiores. Não se esqueçam de que ele ficou tentando Jesus no
deserto com mil riquezas e delicias que só sendo muito santo alguém teria
negado. O diabo se veste bem, fala bem a uma multidão apaixonada, faz chapinha
no cabelo e sempre aparece bem alinhado em publico. Mas por dentro ele é podre,
oco, fedorento. O diabo tem o poder de encantar as pessoas ao ponto de fazê-las
cometer os piores atos possíveis. Não se esqueçam que Jesus disse: muitos virão
em meu nome e enganarão a muitos (Mateus, 24-5). Amém.
Hoje a gente percebe o quanto todos esses séculos
de dominação religiosa fez mal pra cabeça do povo. Sempre volto ao mito de
Platão e sempre penso em indicar esse livro maravilhoso do Saramago chamado A
Caverna. Leiam, quem ainda não.
O problema é que Claudius, o oponente de Hamlet, se
encontra em um lugar feito especialmente para momentos de reclusão espiritual,
fervorosamente concentrado em suas orações. Pergunto-me se Hamlet teria
hesitado caso o rei estivesse rezando na sala de casa, depois de tomar um mate.
Não sei. Mas o símbolo do lugar, do "espaço sagrado" é algo a ser
levado (muito) em consideração. Então, na ânsia de ser protegido, o vilão tenta
transformar em igreja todos os lugares por onde ele anda, inclusive lá onde não
se deveria falar de religião porque não vem ao caso. É por isso que agora já
estão fazendo shows evangélicos no púlpito do plenário. E daqui a uns dias ou
alguns anos, vai ser costume começar a sessão rezando um pai nosso. Como já
acontece em muitas escolas no DF (apenas mais uma forma de torcer o pepino
desde pequenino).
Mas algo mais grave vem por aí. Em Hamlet (olha o
spoiler, hein?) o cara demorou tanto para tentar tirar o rei de lá que quando o
fez foi tarde demais. Tomou um veneno mortal e acabou morrendo junto. A galera
se acaba em uma orgia de espadas e veneno e a peça termina por falta de
personagens. Ou seja, todo mundo se fode. Talvez mais uma marotice do cara lá
de cima, que gosta de matar pessoas?
A cruzada contra o mal já começou. O mal esta no
poder, ganhando muito dinheiro em cima das pessoas amarradas no fundo da
caverna. Hamlet tem que conseguir resultados práticos o quanto antes, que é
para a luta não esfriar, e para não correr o risco de morrer junto no final.
E o resto será silêncio... até alguém gemer um
aleluia no horizonte.
.
Nenhum comentário:
Postar um comentário