O Grupo Teatro Sarcáustico comemora a aprovação de seu projeto no Fumproarte. São cinco anos de grupo, cinco espetáculos que retornarão aos palcos gaúchos a partir do ano que vem. O calendário ainda não está definido, mas segue a lista das peças imperdíveis que teremos a sorte de poder rever!
IntenCIDADE 1ª: Voar, com direção de Daniel Colin a partir do texto Quando amanhecer teu sorriso será mais bonito, de Felipe Vieira de Galisteo.
Foto: Kiran
O espetáculo é apresentado no terraço da Usina do Gasômetro durante o pôr do sol e fala sobre as cores, os sons, os discursos, os vícios, as pessoas e as relações de Porto Alegre. Com o super-elenco Guadalupe Casal, Ricardo Zigomático, Rossendo Rodrigues, Aline Grisa, Tatiana Mielczarski, Rodrigo Marquez, Paola Optiz, Vânia Taris, Fernanda Petit e Ariane Guerra. Se estavas procurando algum espetáculo diferente, criativo e ousado, parabéns, acabaste de encontrar.
Foto: Elisa Viali Há vagas para moças de fino trato, com direção de Daniel Colin a partir da obra de Alcione Araújo. Com Ariane Guerra, Guadalupe Casal e Maíra Prates. Empolgante e surpreendente, com grandes atuações, já percorreu algumas cidades do Estado, sempre sendo muito bem aclamado pelo público. Uma tentativa de linguagem realista, que de tão realista culmina com bergamotas voadoras invadindo a cena. Realmente imperdível.
primeiro espetáculo de rua do grupo. Com direção de Daniel Colin e tendo em cena Felipe Vieira de Galisteo, Mariana Velhinho e Ricardo Zigomático. Sucesso absurdo de público, a história da noiva-anos80-assassina já matou muita gente de rir durante este ano. Cuide-se.
Jogo da Memória, o segundo espetáculo infantil do grupo (que em 2005 fez O (mudo) passeio do Dr. Quejando, que era lindo). Em cena, Ariane Guerra, Ricardo Zigomático, Felipe Vieira de Galisteo, Rossendo Rodrigues e Daniel Colin, com direção deste último.
Foto: Patrícia Dyonísio
O espetáculo continua emocionando muita gente lá no teatro do SESC. E continuará até a metade de dezembro. Sugiro não esperar até o ano que vem.
GORDOS ou somewhere beyond the sea, o primeiro espetáculo do grupo, o pretexto para começarmos toda essa história. A comédia de humor negro mais amada do Estado já foi apresentada em várias cidades do país e estava quase encerrando carreira após a excelente tournée pelo interior gaúcho, em Julho deste ano.
Foto: Kiran
Dizem que foi a pressão da torcida, que queria rever o espetáculo, com manifestação na esquina democrática, abaixo-assinados, greves gerais e campanha na novela das oito que sensibilizou os jurados a liberar a verba do projeto. Com direção de Daniel Colin e tendo em cena ele mesmo, Tatiana Mielczarski, Aline Grisa e Maico Silveira, com participação especial de Katherine Hepburn e Arcky Hogan.
Recados finais:
Coisa um: O Fumproarte premiou também outras pessoas, lógico... Mas como eu sou Sarcáustico de carteirinha, falo só de nós (ô, egocentrismo...)! Bom, de qualquer forma, se você quiser conferir os projetos premiados, clique aqui. Perceberás que teremos muitas coisas boas no próximo ano.
Coisa dois: Não, não é só o Daniel que dirige as peças do Sarcáustico (o que pode parecer uma afirmação estranha, olhando aí pra cima). O Felipe também o faz. E as últimas oportunidades para conferir estão lá na Usina do Gasômetro, com o espetáculo A Vida sexual dos macacos (só até o próximo findi). Mas Daniel Colin está em cena, não se preocupem. Atenção, não o confundam com o Rossendo, já que eles são muito parecidos.
Bom, começo oficialmente a escrever no blog. Queria expressar meus sentimentos neste dia tão especial, dizendo que esperava muito que quando colocasse minha primeira postagem fosse para falar de coisas legais, para dar notícia aos meus amigos dessa minha nova vida longe de casa, para enumerar diversas diferenças sócio-culturais franco-brasileiras... Mas como “eu sou do sul e é só olhar pra ver que eu sou do sul”, não posso deixar de comentar sobre o que vem acontecendo no processo de sucateamento da nossa cultura. Processo que vivi de perto mas que agora sou obrigado a ser um mero espectador internético. Posso voltar um pouquinho no tempo, só pra começar o assunto?
Ponto 1:
Início de 2007. A atual governadora do Estado toma posse e pouco tempo depois temos o anúncio: fechariam a Secretaria Estadual da Cultura. Fechariam, não, fariam a junção desta secretaria com a da Educação. Após inúmeros e insistentes manifestações das duas áreas, com direito a um abaixo-assinado organizado pelos estudantes de Artes da UFRGS e entregue junto com representantes do Sated e do cinema estadual, a situação foi revertida e o governo optou por manter as duas secretarias separadas. Poderia ser uma boa notícia se não fosse a nomeação de uma pessoa que não entende nada de cultura para o cargo de secretária. O que podemos presenciar nestes quase dois anos de Mônica Leal foi um show de horror em nível de administração, projetos e declarações. Inclusive tive o desprazer de presenciar o pronunciamento de um discurso seu durante o evento de comemoração dos quarenta anos do Teatro de Arena. A cada frase equívoca sua eu me encolhia no banco do teatro com vergonha de ter essa pessoa na secretaria estadual responsável pela minha área.
Ponto 2:
Da série “... e vá pro olho da rua!” – parte 1.
Agosto/ Setembro de 2007: O grupo Depósito de Teatro se organiza para sair de sua antiga sede, na rua Benjamim Constant para a nova, na rua Câncio Gomes. Com um maravilhoso projeto de ocupação e revitalização cultural de uma área conturbada, de prostituição e tráfico, o grupo se viu enredado pelos seus problemas internos e administrativos, agravados pela total impassibilidade da administração municipal porto-alegrense. O processo culmina no meio de 2008, quando o grupo é obrigado a fechar suas portas e abandonar sua sede. Ora, se em dez anos ininterruptos de trabalho, o grupo conseguiu manter seu espaço, trabalhar com qualidade pelo nosso teatro e ainda pagar o seu aluguel, o que terá acontecido para que agora tenham que abandonar seu espaço físico, sem que nossa prefeitura fique pelo menos ruborizada de ver isso acontecer debaixo do seu nariz? Não é preciso lembrar a importância de “Roberto Oliveira e sua trupe” (como li um dia desses em algum lugar) no desenvolvimento do teatro gaúcho e na formação de novos artistas – direta e indiretamente (meu caso) – ao longo de sua trajetória. Se nem o Depósito merece uma atenção especial do nosso recém-reeleito amigo e compositor “e sua trupe”, quem de nós, reles mortais, jovens artistas, integrantes de novos grupos, o merecerá?
Ponto 3:
Da série “... e vá pro olho da rua!” – Parte 2.
Recebo emails, abaixo-assinados. Leio a notícia. Ainda estou abismado. O Circo Girassol deixará seu espaço na rua Dr. João Inácio (bairro Navegantes), local que ocupa desde 2002 através de uma ação de despejo movida pela SMIC. Não dá pra acreditar que após o fiasco do episódio do Depósito de Teatro, a prefeitura repetirá seu erro, desta vez com outro importante grupo da cidade, e, mais grave ainda, como agente causador do mal, não somente como mero espectador. O pior é que o discurso da administração vem repleto de histórias incongruentes e enumera medidas populistas para ganhar a simpatia de quem não conhece a história. O assessor de imprensa da SMIC, Ocimar Pereira, diz, em entrevista a Renato Mendonça, que o Circo estava sem contrato desde 2005. Ora, como pode alguém ocupar um espaço durante três anos e meio sem contrato, sem que nada seja feito para solucionar o problema neste meio tempo? É preciso esperar até fins de 2008 para de repente tomar a decisão do despejo? Além disso, ele prossegue que “com a retomada do local, centenas de pessoas terão acesso aos cursos de capacitação profissional da prefeitura” (e o jornalista ressalta que “o pavilhão seria utilizado na ampliação da Escola de Confecção e Moda do SENAI”). Maico Silveira, ainda abismado, pergunta: E as pessoas da comunidade que acolheram o Circo em 2002? E as pessoas que exigiram o retorno para o mesmo local em 2004, quando foram despejados pela primeira vez? O trabalho social do grupo frente àquela comunidade, como fica? Como ficam as crianças que faziam as oficinas? Quem são essas “centenas de pessoas” que vão ter acesso aos cursos da prefeitura? Por que a prefeitura não pode encarar o trabalho circense como “capacitação profissional” também? Histórias enganosas de uma administração que não está nem um pouco preocupada com seus artistas e com o desenvolvimento cultural do seu povo.
Leia o manifesto do Circo, clicando aqui. Você terá a opção de participar do abaixo-assinado.
Ponto 4:
Da série “... e vá pro olho da rua!” – Parte 3.
Segurem o Hospital São Pedro. Era o próximo da lista, mas o Depósito e o Circo foram despejados antes. Os grupos que ocupam o espaço lutam bravamente para se manterem no local, mas a administração estadual voltará a agir a qualquer momento.
Ponto 5:
Da série “E nossos teatros, vão bem?”
1 - Tive a oportunidade de estar em cartaz na Sala Álvaro Moreyra há um ano com o espetáculo “Canto de Cravo e Rosa”. Na ocasião, fomos obrigados a cancelar uma apresentação devido à chuva que caía dentro do saguão do Centro Municipal de Cultura, ameaçando público e artistas com problemas físicos (o reboco do teto poderia cair) e técnicos (era muito perigoso acender as luzes de cena naquelas condições). Durante o verão de 2008 os teatros municipais ficaram fechados para uma reforma, reabrindo em 29 de abril com a cerimônia do prêmio Açorianos/ Tibicuera de Teatro e Dança. Em Junho voltei a trabalhar lá, na técnica do espetáculo “Babel Genet”, Teatro Renascença. Quando choveu, não cancelamos, mas tomamos um belo banho: artistas, técnicos e público andando de guarda-chuva dentro do mesmo saguão. E a reforma...?
2 – O Teatro de Arena pouco antes de completar quarenta e um anos e ganhou um presente da nossa administração estadual: Retiraram os seguranças de lá. Com a aposentadoria dos antigos funcionários, que trabalhavam através de um convênio com a Brigada Militar, a Sedac foi obrigada – depois de muita, muita pendenga – a contratar uma empresa particular para fazer a segurança. Com um detalhe: a equipe trabalha somente até às 22h, assim ninguém precisa pagar adicional noturno para eles. Os esforços da atual diretora, Viviane Juguero, frente aos seus superiores, obtiveram a seguinte resposta: “Não vamos pagar extra. Fecha às 22h.” Resultado: As peças podem começar no máximo às 20h e quando acaba, todos têm que correr para fazer a desprodução de palco e sair em no máximo meia hora. É inadmissível que um teatro como o Teatro de Arena, com toda a importância que tem, localizado na parte central da cidade, a uma quadra da praça da matriz, duas do Teatro São Pedro, seja obrigado a restringir seu horário de funcionamento por um motivo tão raso, tão fácil de resolver se não fosse a má vontade administrativa e burocrática ao qual está subordinado. Isso gera um problema para as produções artísticas que pretendem ocupar o local, já que o evento não pode nunca ter a duração de mais de 2h – a menos que comece bem antes das 20h, o que também é um problema (mas isso é uma outra questão – qual o melhor horário para apresentar as peças, enfim). De qualquer forma, teatro foi feito para ficar aberto à noite, ou pelo menos o tempo necessário para trabalharmos.
3 – Os novos teatros da cidade vão muito bem, obrigado. Bourbon Country, Teatro do CIEE... É lindo poder ter dois teatros tão grandes, bonitos e novos na nossa cena porto-alegrense. O que é uma pena é saber que estes espaços não foram feitos para artistas gaúchos. Enquanto tem gente sendo despejada do seu espaço sério de trabalho, nossos maiores e mais modernos teatros recebem artistas de passagem, que vêm com vários apoios e incentivos fiscais nacionais e estaduais e ainda cobram o que não temos para assistir seus trabalhos, elitizando ainda mais seu público e fazendo este mesmo público crer que só o que vem de fora é bom, desprezando a criação artística local. O Projeto Multipalco rema para conseguir verba e se terminar, mas temo pelo seu resultado prático. Será que, quando findo, se tornará mais um super-espaço cultural destinado a demonstrar nossa condição de província que idolatra (e cobra caro!) por tudo o que não é daqui?
E diante de tudo isso, Renato Mendonça coloca a questão: “existe um êxodo?”. Olha, não sei se temos o número suficiente de casos para qualificar um êxodo. O que sei, é que conheço muita gente boa que foi embora. Gente que foi para Sampa ou para o exterior em busca de condições decentes de trabalho na sua área, onde as pessoas valorizam de verdade um artista e sua obra. É incrível como nós, artistas gaúchos, somos bem-vindos em várias partes do mundo. Basta dizer que é formado nos palcos do sul para ser automaticamente respeitado. Por que é tão difícil termos este respeito dentro da nossa própria casa?