terça-feira, 3 de novembro de 2009

Sobre como a vida é.

“Realmente só existe um momento, que é agora mesmo. E é a eternidade. E é o momento onde Deus nos faz uma pergunta, que é basicamente esta: ‘Queres ser eterno? Queres estar no paraíso?’ E nós dizemos ‘Não, obrigado, ainda não...’ Então o tempo é este constante dizer não ao convite de Deus. Isto é o tempo. Não seria o ano de 50 d.C. mais importante que 2009, entende? Só existe um momento, e é nele que sempre estamos. Isto é apenas a narração da vida de cada um, mas aparte disso, não existe mais que uma história, que é a história de passar do não para o sim. Toda nossa vida é ‘não, obrigado. Não, obrigado.’ E finalmente ‘Sim, eu vou ceder. Sim, aceito. Sim, abraço.’ Esta é a viagem. Todos cedem ao sim finalmente.”


Waking Life


Minha avó foi a senhora mais ativa que eu conheci. Levantava cedo, caminhava a cidade inteira catando goiabas para fazer goiabada. Em fogo de chão. Brincávamos dizendo que era o seu caldeirão de bruxa. As melhores goiabadas de Osório, quiçá do RS. Incansável, cheia de dores depois, e com mania de deixar de comer doces na véspera das consultas médicas, para baixar a glicose.


Não tinha doenças. Tá certo, estava em idade avançada. Com 82 anos é normal alguns problemas da idade. E foi isso que me bateu em cheio. De certa forma, quando alguém passa dos oitenta, acho, as pessoas ao seu redor se dão conta que cedo ou tarde vão ter que enfrentar o inevitável. Mas a gente acha sempre que será o organismo que não irá agüentar, que alguma doença invadirá este frágil corpo e lhe prejudicará de alguma forma.


Mas não foi assim.


Foi rápido, foi inesperado, foi acidental. Uma rua, um carro... bom, a família já conhece este filme, já ouviu esta música. E agora estarão juntas nossas duas crianças, uma de doze, outra de 82, ambas quitadas prematuramente do nosso convívio.


--\\--


Saindo da sua casa, a última vez que falei com ela, me veio com um pote de goiabada. “Ia te dar esta goiabada, mas eu não sei se tu podes levá-la lá para onde tu vai.” Minha resposta, sorrindo: “Nem te preocupa, vó, nestes três dias que antecedem a viagem vou dar um jeito de acabar com ela”. Hoje, acrescentaria: “Vó, eu não sei para onde tu vais, mas tenho certeza que nunca há de faltar uma goiabeira e um fogo de chão para a senhora mimar os que estão por perto, como sempre fizeste conosco. Um beijo.”

7 comentários:

Colin disse...

Força, amigo!

Paty disse...

Querido!
Sinta-se abraçado e acarinhado por mim, nesse momento difícil. Não sei como "dar força" à distância, mas o que sei e, vou fazer, é enviar energias positivas para que enfrente essa situação com serenidade.
Muitos beijos e abraços.

bertha díaz disse...

se nos mezclan la realidad y la ficción. como el factor accidental de lo real es tan fuerte, hay que seguir reinventando desde el otro lado, desde esa vida paralela. tú sabes lo que te digo. y sabes cómo hacerlo. vida breve, breve... pero solo esta. te abrazo fuerte, amigo.

Márcia disse...

Querido Maico, ela já encontrou uma amiga por lá, com certeza, que foi um pouquinho antes e que fazia uma chimia de goiaba como ninguém. Idades parecidas, também uma rua... um carro..., só que em santa maria. Abraço carinhoso!

Guadalupe Casal disse...

O quê dizer nessas horas...

TE AMO! HOJE E SEMPRE.

Unknown disse...

Oi...
Não sei nem o que dizer com certeza ela esta muito feliz lá em cima,olhando por nós e com certeza cuidando para que façam as nossas vontades.
Sei que é dificil mas eu sei que ela não ia gostar de nos ver tristes.Então força primo!!!
Te amooo...Andreza Escobar

Anônimo disse...

Tamo junto!!!

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