quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sobre a memória curta dos torcedores brasileiros

A Seleção Brasileira que participará da Copa do Mundo da África do Sul já está convocada. Bem, já está convocada sob protestos incansáveis de muita gente. Torcedores estão abaladíssimos com a ausência de Adriano na lista. Com a ausência de Ronaldinho Gaúcho. Com a ausência de Ronaldo Fenômeno, de Neymar, de Ganso, de Pato... (meu Deus, o que será da gente sem eles?!).


É preciso dar um pause nessa polêmica toda e analisar a coisa por conta própria, sem dar muita atenção a toda a mídia que se cria em cima de nomes e que sustentam a suposta “burrice” do nosso treinador. Afinal, Dunga não é inocente. Pouca gente entende de futebol como ele, e é chegado o momento de confiar nas decisões de quem foi designado para dirigir a equipe que vai lutar pelo hexa no próximo mês.


Vamos voltar um pouquinho no tempo: 2002. A mídia inteira pede, e os torcedores vão na carona: todos querem Romário. O pedido do momento, o star, o astro, aquele que tinha feito tanto pela camisa canarinho. Luis Felipe Scolari, o “gaúcho burro e intransigente”, segundo expressões do centro do país, diz que não. Resolve juntar sua equipe, “cercar-se de seus homens de confiança” (outra expressão bem corriqueira na época) e partir para a guerra. Vitórias simples e consistentes, um gol ou dois de diferença, em sua maior parte. O “futebol-show” difundido como característica principal da seleção era pouco a pouco substituído pelo futebol direto e objetivo pregado por Felipão. O “retranqueiro” Felipão avança com passos firmes e cara sisuda, jogando sério e passando por seus adversários, um por um, cada qual ao seu tempo, sem fazer previsões homéricas sobre próximos adversários ou possíveis conflitos contra quem quer que seja. Bingo. Tudo deu certo, Brasil campeão.


Em 2006, o técnico Parreira conciliou tudo e todos. Deixou o povo falar, montou uma equipe de stars. Não modificou em quase nada sua base desde que assumiu a seleção em 2003. Uma equipe no mínimo arrasadora. O quarteto mágico formado por Kaká, Ronaldinho, Adriano e Ronaldo prometia uma campanha digna de nota cem com estrelinha. No momento de jogar, que afinal é o que conta, não se viu nada disso. O Brasil se mostrou apático, fraco, sem ganas de jogar. Lembram disso? Lembram das vitórias apáticas sobre Croácia, Austrália, Japão e Gana? Vitórias essas que passam para a história como “o dois a zero na Austrália”, ou “a goleada sobre o Japão de virada”, mas que no fundo, quem viu, quem acompanhou e não analisa só os resultados do placar, sabe que foram jogos de dar sono tamanha a falta de comprometimento da nossa equipe.


Chegamos a 2010. A história se repete. As pessoas querem tal jogador, querem tal outro. Só que Dunga tira da lista algumas figurinhas marcadas. Não levará Ronaldinho (e por que deveria, se o cara não é convocado há tempos, não estava nos planos, e está passando por uma fase de retomada do seu futebol – fase ainda não completa?). Não levará Adriano e Ronaldo (e por que deveria, se eles aparecem muito mais pelas ações extra-campo que pelo seu futebol – e olha que jogam super bem). Não levará Pato, apesar de ele quebrar a casa inteira, se separar da Stephani e inventar entrevista falsa em revista italiana para se separar dela. Na coerente lista publicada no último onze de maio, o “gaúcho burro” mostrou que está indo pra Copa com gente que está a fim de jogar futebol, com gente que evoluiu de verdade no seu futebol nos últimos anos, não com quem conta com o apoio midiático extra-campo.


Dunga: futebol sério.


A Copa do Mundo é um torneio sério, curto e direto. A equipe que defende um país deve ser uma equipe, e não um conjunto de estrelas do futebol que não se entrosam. Estrelas solitárias não ganham Copa, e isso está na história. Ninguém carrega um time sozinho nas costas. As manifestações na internet, a hostilidade dos “brasileiros” contra seu treinador e sua equipe, as opiniões em fóruns de debate no qual dizem que vão “torcer pela Argentina”, ou “torcer para que o Brasil perca logo na primeira fase para deixar de ser burro” só me deixam mais felizes ainda. Porque é o mesmo tipo de manifestação que se ouviu em 2002, o mesmo que se ouviu em 1994 (eu era pequeno mas lembro, hein? Quanta crítica ao Zinho “enceradeira” e ao Taffarel “frangueiro”?), e que não se ouviu em 1998 ou 2006, quando a soberbia de uma equipe de estrelas estragou a festa da maior parte da população.


Por isso, e literalmente, bola pra frente. Eu acredito na experiência desses que estão aí.


Dunga neles!


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Em tempo:


Parafraseando um amigo que me enviou este vídeo essa semana, enquanto no Brasil “se tira sarro da seleção em propaganda de cerveja”, na Argentina eles conseguem empolgar toda uma nação com sua equipe:



Em tempo II:


Um amigo francês, ontem, me chamou de canto, visivelmente preocupado: “Cara... tava pensando... se vocês têm uma equipe que pode se dar o luxo de não chamar o Ronaldinho, a gente tá perdido, meu...” Eu apenas sorri e fiz cara de "pois-é-fazer-o-quê-a-gente-é-foda". Ele não deve ter dormido à noite.


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4 comentários:

Felipe V. disse...

Muitas gente pedindo o Ronaldinho... Mesma gente que sentou o sarrafo no cara na última Copa, já que ele não jogou ABSOLUTAMENTE NADA. Aliás, o cara não joga nada faz tempo, e em jogos decisivos, faz festinha antes, e se apaga em campo... Esse pessoal devia ser mais coerente. Adriano??? O cara é um malandro, esqueceu de jogar futebol. Bate na mulher, falta a treino, bebe... Neymar e Ganso? Olha, os guris tão jogando bem, mas até 6 meses atrás não eram ninguém, reservas de um medíocre time do Santos e das seleções de base do Brasil. Pra que tanta pressão sobre eles? Até parece que vão salvar a seleção na hora do aperto... Não tem como saber, e os caras não foram nem testados.
Campeonato Paulista é uma coisa, Copa do Mundo... De 4 em 4 anos, com as melhores seleções, os melhores jogadores, toda a pressão da imprensa e dos torcedores... Não tem como dizer que eles vão jogar lá a bola que tão jogando aqui.
Fico impressionado com a ignorância de alguns, que tem memória curta, e indignado com a estúpidez de alguns torcedores, que são verdadeiros marginais e só sabem dizer coisas do tipo: gaúcho burro, gaúcho grosso, o que esperar de um gaúcho, etc, etc. Gente que aproveita pra usar seu pretenso "amor" pelo futebol para descarregar seu preconceito, seu ódio, sua babaquice e sua violência, verbal e muitas vezes física.
É isso aí: falem do treinador que como jogador foi capitão do Tetra da Copa do Mundo (que a gente passou 24 anos sem ganhar antes dele), e como treinador, ganhou praticamente tudo o que disputou com a Seleção Brasileira.
Falta só a Copa. E torcerei muito para que ela fique em nossas mãos.
Valeu Maico, pela boa memória!
E agora, vamos torcer!

Carol Zimmer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carol Zimmer disse...

Bem Lembrado Fe! Vamos seguir a linha de raciocínio do Maico e lembrar como a mídia e o povo criticou a convocação do Dunga pra camisa 8 da seleção, e mais ainda por ele receber a faixa de capitão... E no final ele virou um herói erguendo a taça!
O legal é que nada como essa polêmica e a seleção brasileira pra fazer um gremista como o Maico defender o COLORADO Dunga... hehehe
Agora é esperar pelos jogos e torcer muito!!!

Cibele disse...

ahahah Muito legal esse teu blog! E concordo com teu texto, falaram falaram mal do Felipão, mas ele trouxe o penta. Deixa o Dunga...

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