quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O Réveillon mais jacú do planeta

Você não conseguiu voltar pra casa porque era um período de alta temporada somado com crise mundial e preços lá no alto. Você é obrigado a passar o réveillon em Paris. Você pensa: “Ah, que pena, vou ter que ficar aqui”. Você espera que a cidade exploda em luz, você espera shows espalhados por todos os cantos, você espera ver muitos champagnes franceses. Você espera...


23h. Metrô hiper, mega, ultra-lotado. As sardinhas se apertam para conseguir chegar no Champs Elysées, uma das avenidas mais badaladas do mundo. Os bêbados batem no teto, os que querem entrar gritam ofensas e amassam ainda mais quem já está dentro. Cada estação é uma luta de sobrevivência. Ao chegar na estação da avenida, as portas se abrem cuspindo todo mundo em direção às escadas rolantes, que não dão conta do trabalho.


Exatamente no meio da “Champs”, olhamos para um lado e vemos o Arco do Triunfo. Olhamos para o outro e vemos a Place de la Concorde. E, óbvio, muita, muita gente. A Torre Eiffel nos espia por cima dos prédios. Esperamos um show de fogos, alguma coisa tipo Copacabana, só que um pouquinho maior, se é que vocês me entendem. Alguém olha no relógio, faltam cinco minutos. Estranhamos não ver pessoas com garrafas de champagne, nós próprios não temos, mas podemos contar na nossa volta: numa roda de amigos, uma garrafa; com um casal de namorados, outra. E só. Também estranhamos o fato de não ver um show, alguma coisa para entreter o público. Mas tá, de repente isso é mania de brasileiro acostumado a pão e circo desde pequeno. Relevamos este detalhe. Procuramos um relógio em comum: não tem. Alguma unidade na contagem regressiva...? hum... não conseguimos prever como será. Falta um minuto para o grande momento.


Detalhe: a Torre Eiffel durante a noite é iluminada com uma luz “azul-ridículo” que a faz desaparecer da vista da cidade (isso por causa da União Européia e do Sarkozy). E, a cada hora completa, a iluminação troca e fica durante uns cinco minutos, um pisca-pisca como o de uma árvore de natal, só que mais rápido (a melhor coisa da virada de ano foi o fato de a torre voltar à iluminação de sempre, depois de seis meses).


Bom, aguardando o “grande momento”, vemos que a torre começa a piscar, como sempre, por ter completado mais uma hora inteira. Alguém na multidão grita algo, todos olham a torre e, automaticamente para o Arco. Alguma pessoas se abraçam. A gente só tem certeza que é meia noite pelo sinal luminoso da torre. Os três brasileiros presentes no grupo se olham, incrédulos, mas ainda esperam que aconteça alguma coisa. Lá na frente, perto do Arco, alguém solta um fogo de artifício (eu disse um). A multidão grita, impressionada por aquele fogo solitário. Os brasileiros riem, mas no fundo no fundo, querem chorar. Nos 15 minutos que se seguem, temos a oportunidade de ver mais alguns cinco fogos solitários, com pessoas gritando na volta. Triste, muito triste.


Foto: Portal G1.

Champs Elysées. Vista para a Place de la Concorde, com uma roda gigante na frente e luzes natalinas. Para o Réveillon, nada. Exatamente nada.


Ainda não acreditando que não aconteceu exatamente nada, resolvemos caminhar até o pé da torre. De repente lá tenha alguma coisa. Não vou me estender nessa parte: Muita multidão, o que nos impedia de caminhar muito bem; muito frio e pés congelados, o que nos impedia de caminhar muito bem (2); uma câmera fotográfica de um dos brasileiros roubada (finalmente alguma coisa com cara de réveillon); um quase-arrastão seguido de muitos policiais e garrafas quebradas no pé da torre Eiffel (finalmente outra coisa com cara de réveillon); e o metrô que ficava aberto somente até a 1h30, o que fez todos quererem voltar antes desse horário e que resultou num gigantesco congestionamento de pessoas na entrada de cada estação. Após cortarmos caminho pelo famoso Champs de Mars (o parque em frente à torre) e de mudar de rota devido aos tiros para o chão disparados por um garoto sinistro, chegamos em uma outra estação e pegamos exatamente o último metrô para casa. A salvos, num ambiente quentinho (até demais), aguardamos com prazer mesmo durante a parada de quase meia hora entre uma estação e outra, para algum procedimento que não entendi até agora.


2h50. Os brasileiros chegam e correm para internet para o verdadeiro réveillon, esse que a gente vê pela internet. Ligam para a família, para a namorada e falam com amigos pelo Messenger. Finalmente, num quarto de uma casa de estudante, respeitando o fuso de 3h, o réveillon acontece, para uma só pessoa, em um local distante, e com aquela sensação de que, no fundo no fundo, passou a noite inteira realmente sozinho.


feliz ano novo.

7 comentários:

Pablo Berned disse...

"Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha".

E... réveillon no exílio... que bom que existe a internet e os amigos para que nos "console da solidão"... (hehehehe... a expressão é do Benjamin, sobre o telefone...) Tamo junto nessa, Maiquette...

Mas Maico: na Globo (e no portal G1) diz que Paris é uma festa! (de novo esses intertextos que insistem em aparecer tentando ser cômicos)Aonde estava a festa que a tv diz?

Unknown disse...

Te consola eu dizer que eu também não vi os fogos?

Depois eu vou te contar um reveillon hiper jacu que eu passei em aiuruoca. Vou pior que esse teu...

Beijinhos e FELIZ ANO NOVO!!!

prberton disse...

baudelaire, berlioz, sartre, simone, diderot, ionesco, deneuve, truffaut, danton, troisgros, jeanne d'arc, asterix, depardieu, signoret, moreau, resnais, blier, balasko, zidane, verlaine, cezanne, monet, renoir, bernanos...e mais uma penca infindavel de nomes que ja pisaram nesse chao, e tu fica cuspindo? tá muito snob pro meu gosto. eu topo trocar no ano que vem. tu vem praqui e eu prai. topa?

Maico Silveira disse...

hehehe... Acho que eles não passavam o Réveillon aqui não, Paulo... Talvez eles fossem de férias para Aiuruoca, com a Ferr...

Unknown disse...

Cadê o super escritor do ano???

Já se passaram 8 dias maico e nada novo na cidade da neve???

PS 1: No meu post anterior quando eu digo vou queria dizer foi... (minha dislexia ainda me afeta)

PS 2: Paulo, o Maico não tá cuspindo em Paris, apenas no reveillon que ele passou, trocentas mil pessoas pra não ver nada.... E bem, toda essa galera aí devia fazer os seus reveillons a seus modos e não na rua, ou se fosse gostavam, não conheciam os padrões brasileiros (hahahahahaha).
De qualquer forma, não acho que criticar ou não Paris seja cuspir no chão que essa galera pisou... não estariamos cuspindo neles???

Maico Silveira disse...

Bem, eu acho que todos eles pisariam, com exceção do Zidane, que daria uma cabeçada e acabaria de uma vez com o marasmo!

Ferr, não entendi: "depois eu FUI te contar um Réveillon..."??? (hahaha 2)

E não te preocupa que eu to com um texto no prelo para a publicação, a editora tá revisando e talvez amanhã ou depois estará no ar.

Não perca o próximo capítulo!

Andante nos Ventos disse...

não Maico...

Depois eu vou te contar um reveillon hiper jacu que eu passei em aiuruoca. Vou (errata FOI) pior que esse teu...

Era ali o erro...

Beijos vou ler a outra história

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