sábado, 27 de junho de 2009

“Quem quer ser um bom ator bota o dedo aqui...”

Direto ao ponto: esta semana reli um artigo, escrito no ano passado, que a meu ver é péssimo. Com um título total equivocado e algumas afirmações no mínimo... hum... estranhas... Não vou comentar muito, só dizer que não concordo que no cinema o ator explora “a transparência das emoções através do pensamento”. Também não concordo com a afirmação de que para ser um bom ator é preciso saber escrever um currículo e entrar na panela certa – isso faz parte do mercado que o ator é obrigado a enfrentar, não das qualidades de um ator. Em tempo: a expressão “mas se o objetivo for simplesmente ser um artista” não será comentada agora. Bom, dito o que eu não vou comentar, você pode ler o artigo aqui no Terra.


O que acontece é que fiquei pensando no assunto, e encontrei algumas coisas interessantes ditas por pessoas com um pouquinho mais de X do que eu. Segue alguns trechos do livro Mise-en-scène et jeu de l’acteur, onde Josette Féral entrevista uma galera do teatro.


1) Gabriel Arcand fala sobre a formação e o papel de uma verdadeira escola:


“Se a escola conta com professores competentes ela certamente pode ser importante. Infelizmente as escolas especializadas visam muito o ‘mercado de trabalho’. Então elas trabalham os alunos de tal forma que eles possam antes de tudo aparecer bem nos meios onde podem procurar trabalho, ou seja, primeiro a televisão, depois a publicidade, o teatro institucional, etc. Ao invés de desenvolver sua curiosidade, solidificando-os como artistas e como seres humanos, elas perpetuam estereótipos e modelos fundados sobre a cultura de emoções fáceis e superficiais. Isso é um problema, porque no fundo a escola é o primeiro lugar onde se deve iniciar um senso de qualidade no julgamento do aluno. Se as remarcas do aluno são medíocres e frágeis, essa fraqueza ressurgirá constantemente na sua prática e no seu julgamento. Ele vai atuar como ele pensa, ou seja, com moleza e de maneira estereotipada.”


2) Acabando a entrevista com Eugênio Barba :


FÉRAL : Duas perguntinhas finais. Primeiro: de acordo com a sua opinião, quais são as qualidades fundamentais de um ator?

BARBA: A paciência e a obstinação.

FÉRAL: Se um jovem ator viesse falar com você, quais conselhos você lhe daria?

BARBA: Eu diria que ninguém pediu para ele exercer essa profissão e que, para isso, é preciso uma justificativa que transcenda sua ambição e sua vaidade.


3) Acabando a entrevista com Ariane Mnouchkine:


FÉRAL: Você havia afirmado, há algum tempo, temer que logo logo não saberemos mais o que é um ator. Esse temor ainda existe?

MNOUCHKINE: Sim. Quando eu vejo televisão eu me repito isso. Quando chamam alguém de ator e eu olho o que ele faz, eu me digo que estão enganando o público e que logo esse mesmo público não saberá mais distinguir o verdadeiro do falso.


Ela continua, dizendo que é preciso formar verdadeiros atores, exigindo formações verdadeiras e sempre se lembrando de o que é a arte do ator.


Bem, isso se ele optar por ser simplesmente um artista.

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2 comentários:

Mariana Mantovani disse...

boa!

cns disse...

sabias que a Josette Féral é prof invitada do nosso programa este ano? agora vamos é saber se ela vem visitar o povinho na periferia ou se fica por Paris e Bruxelas....

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