domingo, 20 de outubro de 2013

Você não entendeu nada


Jacques, toujours Jacques.

Se você precisa de trens para partir em uma aventura e de navios brancos que possam te levar a buscar o sol que será posto à sua frente, procurar as canções que você possa cantar,

Se você precisa de palavras pronunciadas por velhos para justificar todas as tuas renúncias, se a poesia para você é apenas um jogo, se toda a tua vida é apenas um envelhecer,

Se você precisa de tédio para parecer profundo e do barulho das cidades para embriagar os teus remorsos e de fraquezas para parecer bom e ainda da raiva para parecer forte,

Então,

Você não entendeu nada.




Tu n'as rien compris

S'il te faut des trains pour fuir vers l'aventure et de blancs navires qui puissent t'emmener chercher le soleil à mettre dans tes yeux, chercher des chansons que tu puisses chanter,

Alors s'il te faut l'aurore pour croire au lendemain, et des lendemains pour pouvoir espérer retrouver l'espoir qui t'a glissé des mains. Retrouver la main que ta main a quittée,

Et alors s'il te faut des mots prononcés par des vieux pour justifier tous tes renoncements. Si la poésie pour toi n'est plus qu'un jeu, si toute ta vie n'est qu'un vieillissement,

Alors s'il te faut l'ennui pour te sembler profond et le bruit des villes pour saouler tes remords et puis des faiblesses pour te paraître bon et puis des colères pour te paraître fort,

Alors alors

Tu n'as rien compris

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Hamlet e o golpe de Estado

É mais ou menos assim: Hamlet avança para atacar o rei Claudius, pronto para apunhalá-lo. Está pronto para atacá-lo, decidido. Mas o rei está... rezando. Na hora em que o vê em momento de limpeza espiritual, Hamlet percebe que não pode matá-lo, pois morrer orando significa purificar sua alma. Decide esperar um pouco mais, para que o rei, em um momento de pecado, morra sabendo que sua alma está suja.

Hoje, os vilões das historias reais também sabem disso. Sabem que não podem ser atacados enquanto estão rezando. E é por isso que resolvem ficar rezando o templo inteiro, mesmo sem acreditar verdadeiramente em deus, ou mesmo sem querer o bem do seu próximo. Essa é, na verdade, uma maneira de defender-se dos ataques da sociedade. Ao mínimo sinal de perigo, gritam: "hey, povo de deus, vejam! Estão atacando um homem santo!". Então eles são salvos pela multidão ensandecida, religiosamente seguidora de suas mentiras pecaminosas.

Porque seguir rezando é também uma maneira de controle social. As pessoas estão sedentas por um messias. Estão esperando há dois milênios pela vinda daquele que vai acabar com o pecado e o sofrimento nas suas vidas. Só que Godot não chega, nem vai chegar. A necessidade de ter um líder é tão grande, que qualquer um que tenha autoconfiança e ganância para dar um passo à frente e reivindicar a liderança, a terá. Como na velha piadinha sobre o grande amor, enquanto o líder certo não chega, estas pessoas "vão se divertindo com o errado".

"Sua vida é tão vazia que você não consegue pensar numa maneira melhor de passar estes momentos? Ou você fica tão impressionados com a 'autoridade', que dá respeito e crédito a tudo e a todos os que dizem ostentá-lá?" Fight Club.

A religião protege os malfeitores desde os tempos de Shakespeare. Na verdade, desde muito antes. Shakespeare apenas se deu conta disso e colocou no papel. Em nome da igreja os malfeitores foram longe demais. E, em seu próprio nome, deus mandou matar muita gente, desde o antigo testamento até hoje.

Hoje, amigos religiosos, o diabo esta tomando proporções muito maiores. Não se esqueçam de que ele ficou tentando Jesus no deserto com mil riquezas e delicias que só sendo muito santo alguém teria negado. O diabo se veste bem, fala bem a uma multidão apaixonada, faz chapinha no cabelo e sempre aparece bem alinhado em publico. Mas por dentro ele é podre, oco, fedorento. O diabo tem o poder de encantar as pessoas ao ponto de fazê-las cometer os piores atos possíveis. Não se esqueçam que Jesus disse: muitos virão em meu nome e enganarão a muitos (Mateus, 24-5). Amém.

Hoje a gente percebe o quanto todos esses séculos de dominação religiosa fez mal pra cabeça do povo. Sempre volto ao mito de Platão e sempre penso em indicar esse livro maravilhoso do Saramago chamado A Caverna. Leiam, quem ainda não.

O problema é que Claudius, o oponente de Hamlet, se encontra em um lugar feito especialmente para momentos de reclusão espiritual, fervorosamente concentrado em suas orações. Pergunto-me se Hamlet teria hesitado caso o rei estivesse rezando na sala de casa, depois de tomar um mate. Não sei. Mas o símbolo do lugar, do "espaço sagrado" é algo a ser levado (muito) em consideração. Então, na ânsia de ser protegido, o vilão tenta transformar em igreja todos os lugares por onde ele anda, inclusive lá onde não se deveria falar de religião porque não vem ao caso. É por isso que agora já estão fazendo shows evangélicos no púlpito do plenário. E daqui a uns dias ou alguns anos, vai ser costume começar a sessão rezando um pai nosso. Como já acontece em muitas escolas no DF (apenas mais uma forma de torcer o pepino desde pequenino).

Mas algo mais grave vem por aí. Em Hamlet (olha o spoiler, hein?) o cara demorou tanto para tentar tirar o rei de lá que quando o fez foi tarde demais. Tomou um veneno mortal e acabou morrendo junto. A galera se acaba em uma orgia de espadas e veneno e a peça termina por falta de personagens. Ou seja, todo mundo se fode. Talvez mais uma marotice do cara lá de cima, que gosta de matar pessoas?

A cruzada contra o mal já começou. O mal esta no poder, ganhando muito dinheiro em cima das pessoas amarradas no fundo da caverna. Hamlet tem que conseguir resultados práticos o quanto antes, que é para a luta não esfriar, e para não correr o risco de morrer junto no final.

E o resto será silêncio... até alguém gemer um aleluia no horizonte.
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sábado, 30 de março de 2013

See you, Claremont!

Quando alguém me perguntar o que eu levo desses últimos dois meses...? bem... tenho uma vontade maior de teatro. Relembrei que adoro pesquisar movimento, ação e detalhes de atuação. Tenho três quilos a menos e uma coluna vertical a mais. Meu inglês já está melhor que o "Hello, I'm Maico from Brazil". Reencontrei velhos amigos, fiz mais amigos brasileiros e gringos, fui ao deserto e tirei foto idiota. Conheci pessoas do meu país que fazem fronteira com a Guiana Francesa, vejam só...! Vi uma igreja que se transformou em teatro. Almocei em mesas de conversação linguística, falando uma língua a cada dia. Fiz aulas de ballet e dança contemporânea (me senti a menininha daquele vídeo engraçado do ballet em absolutamente quase todas as aulas). Pedalei, fui pro ensaio de roller, comi champignon e amêndoas como se não houvesse amanhã. Vi muitos esquilos nas ruas, grandes como os ratos brasileiros (os do congresso). Senti saudade, vontade de voltar e de ficar ao mesmo tempo. Recebi críticas e elogios ao meu trabalho. Molhei o pé no Pacífico frio pra caralho. Joguei freesbe e Uno. Li, pensei e discuti. Fiz um ensaio do meu solo para Thomas e o ouvi dizer que lhe faz lembrar as peças que fazia "quando era jovem". Dormi tarde e acordei cedo pra conseguir conversar pelo skype com quem eu quero bem. Entre altos e baixos, aprendi a me mover diferente e dei nó na cabeça com algumas das técnicas. Já saio daqui com saudade, e fico com a expectativa de encontrar o meu Sótano na próxima escala, no sul do México. Fico com a expectativa de voltar a Poa em alguns dias para dar oficina e apresentar minha peça. Fico com a expectativa de chegar em São Paulo e abraçar minha Iararinha. Fico com a mala cheia de livros e a cabeça cheia de idéias.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

M in M


(hoje, três anos depois de ter escrito esse texto, enquanto preparo novas viagens, novos portos, novos desafios, novos vistos, me deparo com o novo projeto de um dos meus grupos do coração, o Teatro Sarcáustico. Demorei a publicar esse texto, escrito em uma manhã fria de dezembro em que eu transitava entre um teste em Madrid e um final de ano em Paris, sonhando com minha Porto Alegre enquanto comia una media com tomate rallado em um barzinho de esquina, pensando justamente nos meus companheiros que tinha deixado temporariamente).

Primeiro contato, tateio o escuro, respiro o ar gelado, percorro ruas que em uma primeira mirada me soam raras, grandes abstratas, impessoais... é difícil imaginar, quando se chega em uma cidade pela primeira vez, o modo como iremos nos apropriar dela, como ela irá fazer parte de nós, de nossa vida... e vai...? Caminhar por entre ruas pequenas, conhecer becos escondidos, imergir nos seus segredos, ser tragado, absorvido, sem dar-se conta do momento de transição, onde o viajante solitário com sua mochila se transforma no feliz habitante, no cidadão modelo, no profissional bem sucedido, no espelho onde todos querem mirar-se. Mas tudo são conjunturas, são suposições perdidas e até descabidas, uma vez que a vontade de fazer com que tudo isso seja seu não pertence exatamente a esse lugar... talvez a dificuldade seja a de descobrir a que lugar ela pertence... estando a pouco mais de oito horas do novo porto, daquela outra cidade a qual julgamos conhecer tão bem (o que sabemos não ser verdade), aquela outra, a qual nos dirigimos com a alegria de quem volta para casa, mesmo sabendo que viver assim significa, mesmo por um curto espaço de tempo, viver sem casa, pulando de galho em galho, mudando constantemente, cambiando por dentro por fora, convivendo com o engorda-emagrece associado tantas vezes com o estar-feliz/ estar-triste que estas cidades te trazem, ou que a tua cidade, aquela que te espera (que te espera?!) te envia... e sabendo que a outra, aquela do destino, não te conhece tanto assim, mas tu aceita quand même. Avançar. Voltar. Afinal, quando é mesmo que um passo à frente significa um retorno, e quando é que o retorno é que significa um passo à frente? Hã?

Madrid, dezembro de 2009

Dedicado a todos meus companheiros, mes compagnons, mis compañeros de jornada, os quais posso ver agora, enquanto fecho meus olhos.

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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Poeminha Braimstorm

Peguei uma idéia,
Deturpei o sentido.
Escutei ao contrário,
Entendi ao avesso.
Olhei nos teus olhos
Verdes,
Vi no meu passado,
Um presente.
Respirei contigo,
Alterou meu pulso.
Me perguntei sobre o futuro.
Li teus escritos,
Sorri teus sorrisos,
Cresci teu cabelo,
Furei teu umbigo.
Respondi tua mensagem,
Chorei escondido.
Chorei abertamente.
Fingi. E fui honesto às vezes.
Corri, querendo ficar.
(e fiquei querendo sair, mas seria muito clichê fazer esse jogo de palavras)

avras.

Fui previsível, incrível, sofrível, surpreendente, chato.
Bobo, inclusive.
Te dei minha roupa – nosso cheiro.
Primeiro guardei teus recados,
(aquele, em pedaços, fui perdendo palavra por palavra.)
Mas lembro de todos.
Apesar de isso ser impossível, minto.
É mais bonitinho.

http://pinterest.com/leilaeme/photography/

Tenho tantos defeitos quanto você, virtudes.
Mas meu sorriso permanece
Dois tracinhos e um parêntese
Escritos em papel timbrado
Selado e postado às pressas... acontece...

Como são efêmeras as cartas, os beijos e as frases!
Mas as imagens ficam, ardentes.
Então o efêmero dura.
Os beijos pendentes
E as palavras ditas, não ditas, idealizadas e esperadas
Não vão embora.
A cabeça gira, latente.

Perdoe-me,
Se eu fosse corajoso, não seria eu.
E se não fosse, também não seria.
Não quero impressionar, prefiro que me conheças assim,
Com defeitos e cicatrizes, inteiro.
Para mim, não é problema.
Não sei quem és, mas no fundo, quem se sabe?

Se você existisse, eu te escreveria um poema.

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