Tem gente que sabe contar uma história, e o mexicano Guillermo Arriaga o faz como ninguém. Mantendo o mesmo estilo que o consagrou nos roteiros de Amores Perros, 21 Gramas e Babel, o diretor e roteirista – ou “escritor para cinema” – traça com a mesma precisão de sempre a história de várias histórias que se encontrarão em um ponto específico da trama. E isso não é pouco. Já é bem complicado apenas o fato de “contar um fato do ponto de vista de vários personagens”, mas fazê-lo mexendo no tempo e no espaço da forma como ele o faz é louvável, digno de nota cem com estrelinha.
A trama de Burning Plain envolve quatro histórias: dois casais “Romeu e Julieta” – um adolescente e outro um pouco mais velho –, uma moça com problemas para se relacionar e uma outra moça bem mais novinha que também tem um problema. Tá, eu sei, todo mundo tem problemas, mas não dá pra falar sem avançar na história e revelar segredos – e não é esse o foco. Aliás, o que chama muita atenção no trabalho do diretor citado é a forma como ele consegue trabalhar os acontecimentos de forma que algo cotidiano se torna impressionantemente cênico e dramático. O segredo escondido nos detalhes, sem dúvida nenhuma, é o grande ponto forte da sua escrita.
Com um elenco forte e muito bem escolhido. Destaque para a Charlize e a Jennifer.
Segue o trailler – o qual confesso que não gosto muito. Bem, uma vez o filme visto, compreenderão o porque de ele não me agradar.
Tudo no mesmo local, que se transformava de acordo com o que acontecia. Três amigos que não eram dali acharam uma máscara de leão, que ao ser colocada se ajustava de acordo com o rosto da pessoa, o que lembrava um pouco o vilão do Máscara. Num posto, via algumas bombas de gasolina explodirem, com um efeito cinematográfico de explosão lenta. Depois, eu chegava com o meu pai no local para investigar um assassinato. O dono, responsável pelo local, era estranho e eu logo desconfiei dele. Cultivava umas melancias que eram modificadas: ele podia tirar o peso delas e quicá-las como bolas de basquete. Entramos no local que era fechado com panos, cortinas pretas como numa sala de teatro. Não possuíamos muitas evidências. Meu computador tinha dado um problema e o cara que veio arrumar trocou por um outro, muito mais antigo, com a mesma velocidade, só que com a carcaça bem antiga. Eu tinha ficado num albergue apenas no dia 23, e ainda estava com a roupa de cama do lugar, não sabia se estava ou não pagando 25 (Reais? Euros?) por dia. Já tinham se passado três dias e eu nunca conseguia voltar lá para entregar os lençóis e pagar o lugar, porque todo dia tinha uma correria pra fazer. As crianças brincavam sobre o local do crime, o dono estranho chegava quicando a sua melancia e as fechava em um canto. Meu pai, que agora é algum mocinho de filme norte-americano, chega com outras pessoas. O dono estranho o cumprimenta e sai do local. O mocinho pergunta às crianças o que ele fez e uma delas responde “nada, ele é alto, bem alto.” Em algum outro lugar, me deparo com uma criança (deve ter uns quatro anos) que fez um comercial que é um amor. Converso com ela. Ela brinca com um carrinho de controle remoto enquanto me explica coisas sobre comerciais e teatro. Estou em algum cruzamento da RS 30, Tramandaí/ Osório, e tenho que esperar o carro passar pra atravessar com o meu. Vôo com minhas asas x-men, cruzo o mundo pelo hemisfério sul, do Japão para o Brasil. Tudo tem tons de marrom, como no prompt do avião. Vejo minha família lá embaixo. Uma menina com asas lindas e uma mulher com asas deformadas que diz que não pode voar. As asas são tão lindas que começo a gostar da menina. Saindo do elevador espelhado, lembro as evidências do assassinato. Desconfio do dono do local e do técnico que trocou meu computador por outro. Tinha alguma coisa relacionada com o furo de uma bolsa, meu pai que percebeu. Temos que passar a noite em uma mansão estranha. Uma mulher, talvez com medo do local, deita na cama com a cabeça virada para o lado dos pés e se encolhe. A cortina branca e longa balança na janela sob a luz do luar. Penso que não posso acordar sem desvendar o mistério. Acordo.
Bom, hoje um grande amigo gaúcho de Santos me ensinou uma coisa nova: postar vídeos do youtube no blog. Bem, mesmo sabendo que alguns rirão da minha inocência devo dizer que... não sabia. Até o presente momento. Quer dizer, talvez, neste momento em que estou escrevendo este texto em Word, ache que entendi, mas depois, na hora da postagem descubra que não. Mas mesmo sabendo que o desafio seria imenso resolvi entrar no youtube e pegar o primeiro vídeo que o próprio site me indicasse – sim, eles estão com essa mania agora de ficar indicando um monte de vídeos que acham que a gente vai gostar.
Mas como acredito que nada na vida vêm por acaso, vejo que este vídeo não foi posto na minha frente por um mero descuido do destino. Explico: é o tipo de vídeo que me faz lembrar meu amigo este, supra-citado.
Sem mais delongas, vamos ao registro audiovisual, que despertou minha atenção e minha curiosidade assim que o vi, porque o autor – ou no caso, o cara que conseguiu a façanha de pegar este trecho exato do programa – foi muito feliz na sua colocação.
O vídeo se chama "veja o que foi dito no final do Jornal Nacional" e vale a pena prestar muita atenção, porque apesar de ser bem curto, é intenso.
Sentou na grama, achou um pequeno espaço onde ela dava lugar a uma pequena poça de areia, tirou os sapatos e mergulhou seus calcanhares. Nunca tinha estado ali, não sabia se algum dia voltaria. Era bonito. Sim, era muito bonito. Lembrou-se que queria conhecer mais lugares assim. Queria viajar mais, queria curtir as coisas no detalhe, “a simplicidade escondida nas pequenas coisas”. Queria aprender a andar a cavalo, talvez um dia ter um sítio, entrar nu em um rio em um dia quente, como sempre tinha vontade de fazer quando lia as estórias no gibi. Queria saber andar de skate como poderia se não tivesse parado duas semanas depois de começar quando tinha nove anos. Agora não dava mais tempo, já estava com dezessete. Tinha que pensar coisas concretas, tinha que trabalhar, tinha que estudar. Queria mesmo era fazer um filme, parecia tão legal. Também era bonito de ver quem se arrumava bem, carregava uma pasta preta, e saía de terno. Poderia um dia, ele também ter um? Queria aprender a falar inglês decentemente, ou espanhol, sei lá. É tão bonito enrolar a língua e ainda assim conseguir se comunicar... falar je t’aime mi amor para aquela menina tão bonita que ele sabia que nunca teria. Mas também queria ficar com aquela outra. E aquela outra ali, que é tão linda... e construir uma família, ter um filho... Um não: dois, porque “se for um casal se cria melhor”, mas ainda era tão cedo, estava com vinte e oito e precisava ajeitar a vida, terminar o curso, trabalhar... E ainda queria correr o mundo, viver perigosamente, andar de carona, “colocar o dedão pra funcionar”, passar a noite em um hotel de beira de estrada, passar a noite embaixo de uma ponte, passar a noite com aquela menina que ele viu de passagem no caixa do supermercado, passar a noite dançando rock, dançando tango, dançando jazz, dançando dança contemporânea... Por que não procurava aquele curso de dança mesmo...? Era tão lindo quem articulava o corpo daquela forma no hip hop... Poderia começar, mas isso exige treinamento desde criança, não daria tempo... além disso, precisava terminar aquele projeto que começou... quando mesmo...? Lembrou que cada vez que olhava para o que tinha que fazer não conseguia nem supor a forma como daria conta de tudo aquilo. “A questão é de começar agora, não esperar ‘o’ evento”. Tá, mas começar o quê? Por qual lado atacar? Antes a frase escrita na porta do banheiro tinha algum sentido, agora virou lugar comum... Poderia começar com aquela lista dos filmes que não tinha visto... mas era tão longa! Todo mundo já tinha visto aquilo, menos ele – não, não daria tempo de correr atrás e ver tudo. Além do mais, tinha que arrumar o quarto, não podia se sentir bem naquela bagunça. Poderia se mudar, começar de novo, ir para uma cidade maior, se perder, trabalhar numa construção, assistir musicais...
sim... assistir musicais...
e aprender a cantar as músicas do programa! E treinar para ser cantor! E cantar tocando piano! Piano! Sim, poderia aprender a tocar piano! Será que daria tempo? Seria lindo no hall de entrada de um hotel tocando e cantando um jazz, e levantando depois, colocando seu chapéu e saindo subitamente, enquanto os hóspedes pedem só mais uma... Ele diria sinto muito mas não posso, acabei de tomar uma decisão importantíssima. E correria na casa daquela sua colega de infância que nunca mais o tinha visto, tocaria a campainha e ao abrir da porta lhe daria um beijo de lhe tirar o ar, e diante o assombro da menina diria isso foi pela sexta série, piscaria o olho, recolocaria o chapéu e sairia impassível diante do seu assombro, sabendo que tinha cumprido pelo menos uma das coisas que tinha um dia sonhado em um dia fazer.
Com o pé inteiro mergulhado na areia, viu a noite chegar. Queria dormir até a fogueira apagar e acordar passando frio.