Abre o sinal, o ônibus arranca, a vida avança.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Breves reflexões de um menino de onze anos
Abre o sinal, o ônibus arranca, a vida avança.
Stanislavskyanamente falando...
terça-feira, 19 de julho de 2011
Les éphémères
Em uma manhã de janeiro – em uma quente manhã de janeiro – ele despertou e tateou ao seu lado o corpo adormecido. Ela, cada vez mais linda, virou para o lado e nem percebeu que ele despertava. Ele, com toda a delicadeza que há muito não usava para sair da cama, saiu, para não acordá-la – como há muito não fazia. Sempre tentava não despertá-la. Ela, sempre com o sono muito leve, nunca deixava que ele não a despertasse. Pé por pé ele saía pela porta e antes que ela fechasse completamente, escutava uma vozinha bem pequenina lá no fundo do quarto escuro: Cadê meu beijo...? E ria, e voltava correndo para a cama, se jogava sobre ela e era uma vontade enorme de apertá-la até explodir. E assim os inícios de manhãs passavam, felizes. Naquele dia foi diferente: ele conseguiu sair sem despertá-la. Quando encostou a porta, quase não acreditou que tinha conseguido. Ficou feliz porque não gostava de despertá-la antes da hora quando ela tinha a manhã livre. Foi para a cozinha, acendeu o fogo e colocou a água para o mate. Estava organizando a louça, quando sentiu uma presença atrás de si: aí estava ela, pequenina, camisola azul celeste com detalhes de uma outra corzinha, mão direita coçando o olho tal uma criança que levanta antes da hora, e um sorriso que há muito ele não via. Ele pensa no quão é bom estar de volta e no quão é bom tê-la sempre por perto. Ela sorri, apenas. Ele sorri. Ela corre na sua direção e o abraça. Assim ficam, alguns minutos. Ele a sente tremer nos seus braços, beija seu pescoço, rosto e lágrimas. Suas lágrimas começam a se misturar, eles se abraçam como se há muito não o fizessem – e há muito não o faziam. Tudo bem?, ele pergunta. Tudo, ela responde, completando: Todos os dias eu me levanto, passo por aqui, e sempre estou sozinha... hoje, eu te vi... e foi como um sonho... uma lembrança boa... e aí me dei conta de que não era sonho, era real... você está aqui... é de verdade... E ao escutar isso ele chora junto com ela. E se dá conta do amor que ela sente. E ela sabe nesse momento do tamanho do amor que ele sente. E ele promete que quando tudo isso acabar eles voltarão a ficar juntinhos, como haviam prometido, para sempre. E ela aceita. E sob o cheiro do mate que começa a ficar pronto em uma manhã quente de janeiro, os dois selam mais um dos tantos pactos que selaram. E o dia amanhece
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quinta-feira, 14 de julho de 2011
De um sonho, ou de uma viagem...
Uma vidente que vê o futuro numa bola de cristal. Um homem que procura alguém
sábado, 9 de julho de 2011
Seus olhos e seus olhares
Meninas são tão mulheres, o garoto acordou e pensou, logo ao se espreguiçar. Ainda não tinha processado muito bem os últimos acontecimentos. Tampouco tinha conseguido dormir aquela noite como sempre dormia após uma noite como aquela. O coração continuava disparado, mesmo após o despertar. A pupila continuava dilatada e os pensamentos continuavam correndo, desatados, sem que ele pudesse fazer qualquer coisa para impedi-los. Revia cada detalhe com uma precisão incrível, brincava de mover os fatos de lugar e de alterá-los conforme gostaria que as coisas tivessem se passado. Revia o olhar. E cada vez que o revia, sentia-se partido ao meio, de novo. E de novo. Me miras, me miras, y me sacas a bailar... e que baile foi aquele. Uma dança proibida, intensa, rápida e inesperada. Tinha passado os últimos tempos tentando negar aquele olhar, mas quando se tenta negar o que é tão evidente, sempre se sai perdendo: mais cedo ou mais tarde ele volta. E quando volta, está potencializado de uma maneira incrível, que chega a derrubar. Gira na cama, sobre o braço. Impossível controlar os pensamentos, já diria aquele cara que passara por uma situação limite. É que as situações limites jogam o homem no centro do perigo, lá onde não existe mais medo. Lá onde ele se dá conta de que o que foi feito, foi feito. Sem volta. Mas o medo, como a gente conhece, esse medo que espanta, existia antes. Agora, ele atinge um outro patamar, atravessa a fronteira, dá de cara com o que tinha tanto imaginado e... gosta. Gosta disso. É um ritual de vida. Sua adrenalina sobe e ele sente que a outra adrenalina também subiu. Sente seus truques e confusões se espalharem pelos seus pêlos, boca e cabelo, peitos e poses e apelos. E lhe agarram pelas pernas (apenas para completar o verso da música). É aí que o telefone grita que chegou uma mensagem e ele pula mais rápido do que o som do próprio telefone para dar-se conta que não era o que esperava. E solta um suspiro lento e preocupado, dando-se conta de que não deveria estar pensando tanto nisso. Mas o coração não acompanha a lentidão do suspiro, c’est tout à fait le contraire: ele é a própria tauba de tiro ao álvaro frechada pelos olhares de bala de carabina. Joga-se na cama encore une fois (“caramba, estou controlando muito mal meu cérebro”). Um carinho, um cafuné e um te ver e não te querer é improvável é impossível e um puta-merda-pára-de-pensar-nisso. Percebe que no fim, está no fim. Tudo sempre tem data para acabar... não poderá ficar nem mais um minuto com você, sinto muito mas não pode ser, o tempo é curto, a vida passa correndo ante nossos olhos e impossível é agarrá-la pela cola. Sempre ela, a vida. Rápida e intensa, como la vida. Porque logo nessa época? Sabe, que, no fundo, amores imperfeitos são as flores da estação.
...e se a vida é feita de momentos, porque não aproveitá-los...?
terça-feira, 14 de junho de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Elle m’a laissé son coeur
Tomate em promoção... olha só... também, tudo verde... assim é fácil fazer promoção... Que cheiro bom... perfume e banho... adoro quand... uau, que linda. Ta, não olha direto, não olha direto... finge que não viu, finge que não viu... la la la la la... Quanto está a manga? Que bonitinha, essa... bem pequenina... que engraçado... manga tem formato de coração. Um coração bem vermelhinho com pequenas ocorrências verdes. Quase dá pra imaginar a pequena manga se encolhendo e se expandindo... tum, tum... tum, tum... ela está me olhando... ah, ta... só o que me faltava... certo que é imaginação minha... bóra pegar o arroz antes que fique tarde para chegar
Hum... foi impressão minha ou quando tirei os olhos de lá ela tinha subido os seus na minha direção...? Há! Canto de olho... canto de olho... hum... ela pegou a manga... ta bem, pelo menos aquela manguinha pequenina terá uma companhia bem cheirosa nos próximos dias, ou horas... Cá estamos, senhor arroz... a ver... adoro escolher pelo número... quem dá menos...? Quem dá menos...? Aqui: adoro quando o primeiro dígito é um um. Conferindo... um, dois, três, pam, pam, pam... oito... ta bem, posso passar no caixa rápido. Acho que vou levar um chocol... olha ali quem vai passando pela porta... ah, não! Agora ela olhou, tenho certeza! Rápido, moço... “não, não precisa de sacola, obrigado”. Uff… esqueci meu troco. “Obrigado, moço, tinha esquecido”. “Para você também, até mais”. Para que lado será que ela foi...? Esquerda... direita... praça ou parada de onib... lá. Lá na parada! Espero que o dela não seja este que está passando. Cheguei. Cadê? Ah, não… Por que você tinha que pegar logo o primeiro que passou…? Oi?? Que será que ela quer dizer com este sinal? “No banco?” Putz… o ônibus foi e eu nem vi qual era o destino marcado nele… por que será que ela apontou o banco da parada? Isso aqui embaixo parece uma... manga?! E esse papelzinho...? “A mi también me parece un corazón... lo compré, es mío. Y te lo dejo a ti.”
sábado, 23 de abril de 2011
Sobre cartas y vuelos...
Talvez, em pleno ano de 2011, o ato de escrever uma carta seja algo nostálgico, especial como é próprio do ato de parar para pensar de verdade em alguém a ponto de tentar colocar algo que é seu em um papel que viajará grandes (ou pequenas) distâncias para chegar até esta pessoa. A escrita é algo artesanal, um ato de amor, quiçá, de alguém que se dedica a um papel que será tocado pelas mãos do destinatário. Existem histórias de pessoas que antigamente colocavam seu perfume no papel. Outras beijavam o papel e deixavam suas marcas de batom nele. O destinatário receberia aquelas palavras e poderia sentir o beijo que foi enviado. Ele tem em suas mãos um beijo. Não é uma imagem bonita? Sabe aquela sensação de ver a Xuxa sentada em um monte de cartas jogando-as para cima e pegando uma delas – apenas uma, para desespero das outras? Imagina a felicidade de uma criança que tinha feito aquela carta com muito carinho e que agora vê sua “ídola” tocá-la? Engraçado que eu nunca escrevi para a Xuxa, sempre me pareceu uma coisa meio boba, mas ficava imaginando a felicidade de ter sua carta tocada por ela, mesmo que não tenha sido sorteada. Só tocada pela sua ídola. Não é o máximo que algo seu, que passou pela sua mão, que tem seu cheiro, seja tocado por alguém que você admira? Não é à toa que guardamos ainda hoje, na época da informação rápida e direta, a nostalgia e o romantismo da idéia de uma carta de amor. Afinal, escrever uma carta é, sob certo ponto de vista, um ato de amor. Com minha primeira namorada, tínhamos uma prática de escrever-nos cartas, mas com um diferencial: nunca passávamos a limpo. A idéia era deixar fluir para o papel coisas que estivessem na nossa cabeça no instante em que estávamos escrevendo, sem nos preocuparmos com erros gráficos, com letras imperfeitas ou algo do gênero. Assim estaríamos conectados de verdade – quem recebesse a carta – com aquele momento em que o outro escreveu. Não é uma imagem bonita? E como nada é em vão e tudo deixa marcas – principalmente as “primeiras namoradas”, ainda hoje levo comigo o ato de escrever em fluxo, sem parar muito para pensar, organizar ou medir palavras simplesmente porque este é o fluxo do meu pensamento no momento da escrita. Claro, com exceção de artigos, dissertações e cartas oficiais e técnicas ao governo de algum Estado – estas sim muito bem pensadas. Mas blog, cartas e bilhetinhos escondidos do professor no meio da aula não. Me pergunto hoje se ela sabe dessa importância toda – tudo o que veio do fato de um dia ter existido uma namorada que não passava a limpo. Não é uma imagem bonita?
Baobás, em breve.
domingo, 13 de fevereiro de 2011
What melody will lead my lover from his bed?
É assim mesmo, a vida essa. Às vezes a gente ajuda. Às vezes a gente é ajudado. Um dos meus principais anjos no ano que passou viu isso de perto. A vi chegando e dizendo smile though your heart is aching e me disse que if I smile, maybe tomorrow eu descobriria that life is still worthwhile. Aí ela me mostrou como eu poderia ser livre e feliz depois de um momento difícil, e me lembrou como tocar violão e me re-ensinou a cantar e fez dupla comigo e se empenhou em falar em inglês para que nós dois tivéssemos mais vocabulário e me mostrou na prática, no dia-a-dia, o que significa ser amigo.
Pensávamos em preparar uma janta, um prato especial, esperando-a voltar de férias, quando ficamos sabendo que ela não viria, e que não poderíamos mais prever quando a veríamos. O que se seguiu foi absurdamente lindo em sua tragicidade: amigos. Só isso. Manifestações de amizade. Quando o mundo inteiro conspira em favor de alguém e envia muita energia positiva e o empurra em direção à recuperação. Emails, cartinhas e gatos lambedores de sovaco.
Hoje a recuperação avança super bem e logo a teremos borboleteando por perto novamente. Existe aquela máxima que diz que a gente não pode esperar para falar para as pessoas o quanto elas são importantes para nós. Bem, as pessoas que são importantes sabem de certa maneira que o são. Mas esse breve texto em um blog quase abandonado serve justamente como uma pequena declaração pública de amor e de amizade a alguém o qual desejo que esteja sempre próximo.
keep walking, borboleta.
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Uma viagem no ônibus
domingo, 2 de janeiro de 2011
What is a happy new year?
Chegou o tão comentado ano de 2011. Temos mais um ano de vida na Terra antes que o mundo acabe, segundo algumas correntes aí. Se você está lendo isso é porque conseguiu atravessar o ano passado inteiro. Não digo que o tenha feito ileso, claro que muitas marcas o ano que passou deve ter deixado em você, assim como deixou em mim, no seu colega de academia (nas várias acepções da palavra) e no vizinho do andar de cima. Você de repente foi atropelado, ou empurrado, ou acabou algum namoro, o foi operado, ou teve febre, ou foi traído por algum amigo que roubou dinheiro da sua bilheteria, mas sobretudo você atravessou isso. Você está em 2011. Você consegue ler este texto agora. Você deveria se orgulhar disso.
O ano está começando e com ele a gente recebe muitas palavras de incentivo que nos impulsionam a vivê-lo diferentemente do ano que passou. O mundo nos deseja muito dinheiro no bolso (há quanto tempo a gente ouve isso, mesmo?), como nos desejou na entrada de 2010 e como nos desejará o ano que vem. “Muita paz” ouvimos pelas ruas. Muita paz? Como assim? – perguntaria este sem ene que vos fala – defaine “paz”, s’il vous plaît. Paz é uma palavra que deixa muita coisa em aberto: é da paz no mundo que estamos falando? A paz na vida? A paz que se transforma em marasmo quando finalmente chegamos nela? O mundo, o ano, a década – a vida, enfim – são feitos de desafios, e se não for assim caímos no marasmo esse. E esse conceito não combina com a paz desejada no final do ano. Talvez seria melhor nomear esse desejo de “paz nas ruas”, “paz no trânsito”, “paz no morro-de-fulano”, mas não “paz na vida”. A vida deve mover-se. Se não, não combina com a palavra vida.
Agora, viver em movimento é indolor? Não, não é. É nos momentos de desafio e dor que o ser humano cresce. Dói até assumir isso, mas é verdade. Pare um momento, olhe para trás, e você verá o quanto cresceu e o quanto aprendeu nos momentos ruins. Mas me nego – e todos deveriam negar-se – a aceitar esse momento ruim como permanente. Ele só é válido se for transitório.
Ok, finish momento auto-ajuda.
A tevê faz toda uma reportagem para dizer que o ano novo não tem nenhum valor aparente nos movimentos místicos que se conhece. Não é um transito especial dos planetas, não é simbólico no catolicismo – religião predominante no Brasil. (aliás, me ensinaram na catequese que quando Jesus nasceu, Maria começou a contar os dias, por isso se diz “antes” e “depois” de Cristo. Minha pergunta sempre foi: por que o ano começa, então, uma semana depois do nascimento dele? Seria uma margem de erro que deu Maria, caso não tenha conseguido contar dia por dia? Isso é normal, né? Essas tarefas diárias são fáceis de esquecer: anotar gastos diários, tomar pílulas, tomar antibióticos... imagina contar a idade do seu filho em uma época onde não existem calendários impressos com imagens de garotas nuas para dinamizar os dias... Então nada mais justo que ela tenha dado uma semana para contrapor os dias que esqueceu de contabilizar. Essa explicação quase me satisfaz.) E no entanto, existe todo um movimento mental que nos faz pensar coisas boas para que quando o relógio bata a meia-noite e os fogos estourem no céu, a vida mude. Assim, como quando se diz tirrim, tirrion: Coisas boas, Tirrín!! Coisas ruins, Tirrión!!
Não seria bom se conseguíssemos mentalizar isso nos outros dias do ano também? Acordar com o pé esquerdo, maldizer a vida e o mundo e de repente parar e pensar: “hey, não foi isso que combinei comigo mesmo no Réveillon! Coisas boas, Tirrín!”
E aí sim o mundo seria belo e bonito, as pessoas correriam pela relva tal qual um filme campesino onde as crianças tomam banho de riacho, onde os amores são eternos e onde todas as promessas de amor são cumpridas. Onde não existiria conflito armado nem medo de voltar para casa depois das onze da noite. Nem medo de voltar para casa de surpresa e não ser recebido. Onde você diria o que pensa sem medo que as outras pessoas se ofendam. As preocupações do mundo se resumiriam a resolver problemas de escoamento urbano para que não existam enchentes, salvar mineiros quando alguma coisa saia errado, ou simplesmente encontrar alguém para ficar junto e trocar um beijo ou dois. Ou seja, coisas que não fossem provocadas por nós, os humanos, de uma maneira proposital, maldosa.
Encontrar público para assistir à sua peça já não seria problema, pois as pessoas buscariam seu enriquecimento pessoal por conta própria, sem sentir-se empurradas a fazê-lo. Acidentes no trânsito já não existiriam, pois as pessoas respeitariam – não as regras de trânsito, mas a si mesmas, o que é bem mais complicado. Problemas políticos seriam diminuídos, pois os donos do país pensariam de verdade no seu povo. Ninguém aumentaria seu salário em 73% enquanto sorri diante da desigualdade de um país de dimensões continentais.
E assim a gente teria paz. Não na nossa vida, note bem. Afinal, namoros acabam, trabalhos têm de ser escritos, prazos têm que ser respeitados, correrias devem ser feitas, definições dos novos rumos das coisas-pós-contemporâneas têm que ser realizadas, muitas vezes com muitas discussões e debates. Mas a paz estaria lá, no seu lugar, guardada principalmente no respeito que as pessoas trariam junto consigo de fábrica.
E a vida continuaria movendo-se.
always.
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